14/10/2024 23h
Recesso escolar: um sonho... ou será um pesadelo?
Semana de recesso escolar. Alegria para todos, certo? Errado! Aqui em casa, recessos, feriados e finais de semana são apenas oportunidades para sermos ainda mais criativas na gestão do caos. Qualquer mudança de rotina é um desafio de nível hard para a Nyara e para muitas outras famílias onde a rotina seja a forma de manter as pessoas reguladas. Os nossos finais de semana já estão devidamente ritualizados: sábado é dia de natação e domingo é dia de trançar o cabelo, mas, quando um feriado cai no sábado como aconteceu no último e não teve natação... o mundo desaba.
Hoje, mesmo avisando para ela que a escola estava fechada, quando bateu 12h (o relógio biológico dela é impecável), lá foi ela: escovou os dentes, pegou o uniforme no cabide e se preparou para o grande dia de aula... que não existia.
E eu, evidentemente , lá fui com a mesma ladainha: 'Filha, essa é uma semana de descanso e diversão, sem aulas!' Tento evitar a palavra 'não', porque uma linguagem afirmativa é mais eficaz para pessoas com rigidez cognitiva, tornando a comunicação mais direta e objetiva, além de reduzir a ambiguidade e facilitar a compreensão. Focar no que vai acontecer, em vez de negar algo, ajuda a compreender, minimizar a frustração e a ansiedade diante das mudanças na rotina. Mas confesso, nem sempre consigo.
Hoje, segunda-feira, depois de umas três tentativas frustradas de ritual escolar – leia-se: escovar os dentes, pegar o uniforme e ir para a escola, Nyara decidiu que o mundo estava contra ela. Então, ocorreu o colapso épico: muitas lágrimas, mesa virada, objetos voando como se estivéssemos em uma cena de filme de super-herói. E lá estava eu, fazendo movimentos de esquivas corporais tipo matrix para garantir que nada acertasse minha cabeça e também óbvio cuidando para que ela não se machucasse, enquanto a crise seguisse seu curso.
Depois que a tempestade passou, consegui convencê-la a brincar de boliche e jogar bolinhas dentro de uma caixa de papelão por uns gloriosos cinco minutos. Vitória! Mas, como mãe sagaz que sou, já tinha o plano B em ação: acendi o incenso de alecrim, afinal, traz tranquilidade mental e combate o estresse... Se não ajudasse a ela, pelo menos ajudaria a mim mesma. Também fiz todas as orações que conheço, porque, sinceramente, só queria que ela se acalmasse. E para completar, recorri ao nosso fiel aliado aqui de casa, o xarope de maracujá, aquele que acalma até o pensamento. Ela cochilou e acordou plena, como se nada tivesse acontecido, enquanto eu finalmente respirei...
Amanhã, acendo o incenso logo cedo!
Brincadeiras à parte, recessos, férias e finais de semana são muito bem-vindos... mas não para famílias com pessoas que tenham rigidez cognitiva. O mais engraçado é que, como sempre compartilho nosso cotidiano de forma leve, tem gente que acha que por aqui tudo são flores, sem gritos ou agressividade. Ah, quem me dera! E, sempre tem aquelas pessoas que soltam algumas pérolas (com certeza achando que estão me elogiando ou confortando) que me faz empurrar um choro garganta abaixo: “Sua filha nem parece autista, né? Ela deve ser nível 1 pela carinha dela...” ou “Ah, é só uma fase, quando ela crescer melhora”. Essas frases me fazem revisitar aquele velho luto, que eu tinha quase conseguido enterrar bem fundo no coração mas que de vez em quando brota novamente.
Mas, é isso aí, seguimos em frente com muito humor, incenso de alecrim e litros de maracujá! E que venha a terça-feira...
Se você leu até aqui, deixa um coraçãozinho para mim na mensagem. Assim, saberei que esse tipo de conteúdo interessa e continuarei compartilhando nossos momentos.
Muita luz para todas as pessoas que acompanham nossa jornada! Ubuntu!
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